terça-feira, 9 de abril de 2013

Devaneio sobre o gato.

Desencarando o pedaço de frango e desviando o olhar para uma suposta mosca, hora no chão, hora no teto. É assim que meu gato atua enquanto almoço. Atua, representa e engana. Talvez, a convivência comigo o tenha proporcionado mais dessa desfortuna habilidade de dissimular, que aliás, muito bem lapidada por todos nós. Não recitei Shakespeare, nem Gil Vicente para um gato, consideraria plausível essas hipóteses se não me incomodasse outra suspeita menos engraçada. Como raramente me aflijo por insistências ou rogações, o felino acabou descobrindo que fingir desinteresse e indiferença rendem mais suculentos pedaços de proteína do que ficar miando e enrolando seu rabo em minha canela. Há as vezes que me julgo impiedoso por não dar a mínima para choros e inquietações, mas logo me lembro de taxar como comum aquele famoso ato de mesma crueldade, o ironicamente apelidado “cu doce”, que de doce, afetuoso; amável; agradável; açucarado, não tem absolutamente nada.
Mas essa peça felina se desmonta quando maldosamente balanço um respingo de filé em frente ao seus olhos, antes calculistas, agora dilatados. 

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