sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Entre uma discussão.

Numa discussão de duas pessoas sobre religiões, sussurro que sou ateu.

A pessoa da direita olha de canto e move rápido o pescoço pra minha direção. Sem nem tentar esconder o terror e o espanto ou só a surpresa.

A da esquerda dilata a pupila, ergue as sobrancelhas, abre a boca e proclama um discurso “neoateu”, clichê e inteiro. Não que o discurso fosse barato e isento de fundamentos, mas era típico.

No fim do dito discurso, ambas olham pra mim esperando qualquer argumento cientifico longo ou uma afirmação que fosse. A da direita com tédio e desprezo. A da esquerda ainda ofegante, ainda empolgada. Procuro entre meus bolsos o celular, quando encontro, coloco qualquer musica pra tocar, olho pra algum lugar e não digo nada.

Por mais que eu não desejasse, a discussão continua sem mim. Entre o fim de uma musica e o começo de outra, consigo escutar trechos da tal discussão. Até que na quinta ou na décima musica, talvez, os dois cansam e cada um vai pra um lado.

A da direita tentou me dizer alguma coisa antes de sair, mas não consegui entender.  Graças a seu deus a musica era alta o suficiente. Deve ter dito algo como “cada um acredita no que quer” ou “deve se respeitar a religião dos outros”, essas coisas que diz todo religioso não convencido da inutilidade da própria crença.

A da esquerda não disse nada, só saiu. Deve ter pensado que eu fosse um ignorante mongol e sem argumentos. Mas não a culpo. Talvez eu fosse, talvez seja.


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