Sou dono de um cobertor
magico. Aliás, todo dono de algum cobertor escuro é dono de um cobertor magico.
Me dei conta de tal subjugada posse enquanto me contorcia na cama, em busca
duma posição confortável suficiente a ponto de me ajudar a pegar no sono. Fica
até vergonhoso após dezoito anos, dormindo quase todos os dias, não lembrar se
prefere de bruços, com um travesseiro sob a cabeça e com um dos joelhos dobrado
ou com os pés para a cabeceira e sem travesseiro, apoiando a nuca nos braços.
Nessa vergonhosa e socialmente desimportante indecisão, decidi me cobrir
da cabeça aos pés com aquela manta mágica. Já era dia, talvez eu não
precisasse mais tentar estar dormindo, mas era domingo e a preguiça... Mais a
preguiça do que o domingo. Já era dia quando consegui enxergar a mágica do meu
cobertor, a luz daquela manhã escorrendo por entre as desgastadas linhas de
algodão e aparentando uma deformidade única, logo perfeita, imitando o silencio
de alguma constelação.
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