Numa
discussão de duas pessoas sobre religiões, sussurro que sou ateu.
A pessoa da direita olha de canto e move rápido o
pescoço pra minha direção. Sem nem tentar esconder o terror e o espanto ou só a
surpresa.
A da esquerda dilata a pupila, ergue as sobrancelhas,
abre a boca e proclama um discurso “neoateu”, clichê e inteiro. Não que o
discurso fosse barato e isento de fundamentos, mas era típico.
No fim do dito discurso, ambas olham pra mim
esperando qualquer argumento cientifico longo ou uma afirmação que fosse. A da
direita com tédio e desprezo. A da esquerda ainda ofegante, ainda
empolgada. Procuro entre meus bolsos o celular, quando encontro, coloco qualquer musica pra
tocar, olho pra algum lugar e não digo nada.
Por mais que
eu não desejasse, a discussão continua sem mim. Entre o fim de uma musica e o
começo de outra, consigo escutar trechos da tal discussão. Até que na quinta ou
na décima musica, talvez, os dois cansam e cada um vai pra um lado.
A da direita tentou me dizer alguma coisa antes de
sair, mas não consegui entender. Graças a seu deus a musica era alta o
suficiente. Deve ter dito algo como “cada um acredita no que quer” ou “deve se
respeitar a religião dos outros”, essas coisas que diz todo religioso não convencido
da inutilidade da própria crença.
A da esquerda não disse nada, só saiu. Deve ter
pensado que eu fosse um ignorante mongol e sem argumentos. Mas não a culpo.
Talvez eu fosse, talvez seja.
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